quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Naturalmente Humano


Respirou profundamente tentando recuperar a calma que a muito tempo perdera. Remexeu na bolsa: chocolate, balas de goma, mais balas, um metodo desesperado de ativar adrenalina, porém inútil ao seu estado. Mais no fundo, e estava alí, escrito com letras grandes: Rispiridon. Não era hora para fazer uma loucura, nao devia enganar a si mesma, nem lhe fazer mal com aquela droga, porém o corpo implorava por ilusão. "Leva isso mente idiota! apranda a controlar seus impulsos ou lhe meto mais droga!". Engoliu sem água, as capsulas desciam machucando o esôfago.

Mais dez minutos sentada, continha-se pois precisava domar-se antes de mais uma terapia. Tudo permanecia igual, o mesmo estado de ansiedade, outra tentativa vã. Pensou em tomar outro medicamento, afinal este não era para mantê-la calma e sim para acabar com suas crises hipnogógicas.

Novamente a mão treme e pega impulso, para sozinha deslisar entre os chocolates e caçar seu único remédio controlado, outro desce doendo pelo esôfago, mais uns segundos, tudo igual.Fica tensa, quer mostrar-se melhor, mas não está! Entra no primeiro bar da rua, bebe duas doses da sua vodka favorita."Toma isso sua vagabunda, agora está calma?!

Precisa andar mais uma quadra para entrar no consultório. Seu analista, na mesma poltrona, pernas cruzadas, óculos, como qum tem o direito de julgar suas atitudes e sua sanidade.. Pergunta se está bem, mas isso apenas faz parte de um ritual, todos os terapeutas faziam a mesma coisa, apenas hábito, pouco se importavam com o seu estado. Vestem o casaco, cruzam os braços e vão para suas famílias frustradas.

Naquele dia ele estava igual, mostrava-se interessado:

- Como passou estes ultimos dias? saiu dançar? Viu amigas?

Ela ri e apenas balança a cabeça, "pouco lhe importa!"

É como se tudo fosse absurdo, bisarro demais para ser real. sabe que quando seu estado é ruím ele fica mais ousado, sabe que quando se humiha ele lhe devora porque quer ser superior.

"Me fale sobre o que aconteceu que lhe abalou?"

As palavras que antes ficaram presas, tomam vida. "Não sou tímida, não me julgo especial".

- Pouco lhe importa se estou bem ou não, exceto se vou continuar lhe pagando a terapia. Sabe que posso finjir o que quiser, é o que tenho feito. Você não se importa com o meu estado está apenas cumprindo seu trabalho. Hoje podemos ficar em silêncio, dispenso seu esforço.

Ela vira-se, o vestido sobe mostrando tudo o que pode ser mostrado. Ela permanece imóvel.


O homem finje-se domado, conhece sua paciente. Sabe que Nietzsche influencia na sua terapia como um fantasma incorporado no corpo feminino.

- Me formei em medicina porque me importava com as pessoas, sofria com o sofrimento delas e sentia necessidade de aliviar.

Alice não sabia como abalar aquela mentira, em outro momento diria que não confiava em psicólogos e psiquiatras, diria que eles mentiam apenas para abalar suas idéias, que sinceramente era besteira suas palavras. Naquele dia apenas sorriu e ironizou:

- O Senhor bondade se tornou conselheiro e não psiquiatra.


Ele permaneceu em silêncio. As afrontas eram sempre contra a sociedade, a cultura, a família, mas naquele dia tudo se tornava mais pessoal do que gostaria. Alice não estava bem, mas esbanjava bom-humor, caso típico de adolescentes.Irritava!


Havia passado menos de cinco minutos, faltava ainda muito tempo, estava cansado de insistir sem resultados, não havia um assunto central sobre o qual conduzir a sessão. Devia ser sobre o namoro recente, as festas, como rotineiramente havia sido. A menina recusava-se a falar: algo tinha acontecido.


- Alice, vamos falar sobre você, me conte como foi seu final de semana e o jantar em família com seu namorado..


- Não há o que dizer, aqui não há namorado, nem família. Não vejo necessidade de evitar falar sobre você, como está seu casamento e seus filhos?


Diante de tanta ironia e desafio ele devia estar nervoso, pois com poucas palavras ela agredia o profissionalismo do seu terapeuta, mostrava-se doente pela situação em si. Mas o médico sorri também.


- Quer dizer que agora não é dependente do namoro?


- Não. Sou livre.


- Me falou que o amava, tinha planos de casamento, parece que não está sendo sincera. Não precisa se preocupar em não expressar sua dor.


Nunca precisou tanto de abrigo, a dosagem do remédio parecia não conter nada sua ilusão. Levantou as pernas sobre as almofadas.


- Estou ótima, tomei a medicação com tanta vodka, nem ao menos sinto minhas pernas.


O médico riu em vez de fazer uma internação de emergência, parecia um sinal de covardia. "Tanto faz - ela dissera antes".


- Menina, vou verificar a sua PA.


- Não é necessário. Saia desta poltrona, senta-se aqui nesta almofada, seja humano e deixe seu deus voar para longe, somos dois desgraçados. A degradação é inevitável, ela vem aos poucos ou rápido e nos possui até nos tornar cadáveres.


- Saber que vai morrer não é motivo para tentar suicídio e nem me mostrar sua bunda tentadora, precisa ser feliz enquanto não é o fim.


- Eu não tentei suicídio, apenas aliviei a minha dor. Estou te convidado para jogar sua máscara de terapeuta e me mostrar como você realmente é.


- Seria covardia querida, conheço seu masoquismo. Não saberia me dizer não, você está doente! vai buscar sentir fisicamente uma dor maior que aquela que lhe devora por dentro.


- Sou apenas um animal feminino.


- Então me fale apenas a palavra SIM, para o meu desejo. Pense bem! pois com esta palavra eu me torno seu dono.


- Sim - olha bem nos meu olhos - Sim!


- Feche os olhos!


Ela obedeceu de imediato. Com uma rapidez absurda ele aproximou-se e bateu violentamente. Depois retirou-lhe o vestido para morder seus mamilos e o clitóris, só para ouvir os gritos sufocados pela almofada e a menina tendo orgasmos múltiplos.


Depois de machucada ela sorri, agradece e vai embora tranquila.


Após ela fecha a porta e ele suspira:


- Só eu sei fazer bem a esta doidinha!

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