segunda-feira, 21 de julho de 2014

O que você poderia não saber



Com seus quatro filhos, todos abandonados, e batalha após batalha perdida, Clara insistia em pensar que poderia cuidar de seus destinos. Recusava-se a olhar a realidade e sempre, para si, o amanhã prometeria algo diferente de toda catástrofe, seguia perseverante trabalhando incansável e suja com suas mãos calejadas e o suor brilhando em seu rosto feio. 

As crianças, elas estavam descalças sobre a terra vermelha e fria correndo,magras, atrás de borboletas e brincando na lama.

O marido, que por covarde nunca foi marido, mentiu para poder fugir, e novamente encontrar outra moça pobre sem beleza para, facilmente, obter sexo sem proteção e disseminar sua prole, tornando o mundo um lugar mais horrível.

Clara, que em seus dias de diarista encontra alegria somente em estar sob um teto limpo distante das reclamações de seus filhos famintos, dos quais se arrependeu amargamente de os ter dado a vida, chegava em casa cansada e mentia histórias para seus filhos dormirem a noite toda esquecendo os piolhos e vermes em seus corpos.

Com suas mentes ainda inocentes demais para entender e suas necessidades básicas negligenciadas, as crianças descobrem a cada dia algo mais violento crescendo dentro de si, algo mais egoísta que o próprio íntimo egoísta de cada ser humano. Esquecem do significado da afeição familiar, como animais selvagens que lutam solitários mesmo em um grupo, com futuro de todos definido por uma mulher ingênua.