sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Casa e eu






Acordo com a sensação vazia, sem saber onde estou, olho para o lado na cama e ali está amarrada gritando para o teto. Ah! como tento agredir minha própria imagem! O silêncio faz ecos para arder minha cabeça. Os olhos coçam. porém não posso mexer meus braços.

Só quero uma coisa nessa vida: poder repousar sobre meu ventre gelado.

A solidão é uma alegria, passeio nua por toda a casa, enquanto junto forças para me manter alimentada. E esta casa é uma selva onde preciso defender meu corpo da dor.

Aquelas correntes prendem um corpo sobre a cama, forçando-o a ficar ao meu lado, meu próprio coração me odeia e sinto seu ódio espumar na boca, forçando a querer se desprender das correntes.

Em que quarto escuro me perdi? Como posso fujir se essa minha casa é tão grande?

E outra vez meu amor me esqueceu, outro amor não foi amor, outra vez a natureza bruta quer viver bem e aqui nos escondemos nessas paredes.

O relógio metódico pipoca seus minutos latejantes e sinto o sangue parar em um corpo sensível ao tempo.

Onde a natureza egoísta falhou comigo? Quero poder correr pela grama macia e o concreto firme, quero sentir o prazer do sexo, o sentimento de eternidade e frágil como corredores passar a tocha da vida aos meus descendentes.

As correntes prendem meus braços a cama e os ponteiros do relógio chicoteiam minha mente de carne morna.

Gritar me dói o peito e vejo o reflexo do que sou ao lado na cama, totalmente débil e sem energia.
Nesse lar só há espaço para nós duas, se caçando, se caçando, se caçando...